1 de fev. de 2012

CAPRINO-OVINOCULTURA DO SEMIÁRIDO BAIANO - EM BUSCA DA VIABILIDADE

                                                                                                     Clovis Guimarães Filho

(ARTIGO REDIGIDO EM 2009) 

INTRODUÇÃO

As políticas públicas e programas de apoio à caprino-ovinocultura desenvolvidos até pouco tempo atrás no semiárido nordestino, além de dispersos e superficiais, se caracterizaram por uma concepção predominantemente assistencialista e por uma excessiva setorização, pelo que, em termos de resultados não propiciaram nenhuma mudança de real impacto ao nível de padrão de vida do produtor e de sua família. Pelo contrário, a ineficácia desses programas colocava sob ameaça de desaparecimento um enorme potencial de trabalho e produção, representado por mais de um milhão de unidades agrícolas de base familiar.

No território Sertão do São Francisco baiano a história não foi diferente. É evidente o enorme esforço dos novos programas que estão sendo levados a efeito na região em não repetir os mesmos equívocos. Os pontos vulneráveis desses programas continuam sendo:

• A não priorização da busca de uma autogestão que permita ao grupo de atores locais assumir gradativamente o protagonismo do processo, reduzindo, em ritmo compatível, a dependência das instituições públicas;

• A visão curta de um horizonte meramente quadrienal para o alcance de seus resultados;

• A massificação imediata, sem os meios necessários, do contingente de beneficiários em detrimento de áreas-piloto iniciais com expansão gradativa posterior;

• A limitação das ações de apoio ao segmento de criadores, ignorando ou negligenciando os demais segmentos da cadeia produtiva;

• A inexistência de um sistema simultâneo e eficaz de monitoramento e de avaliação de impactos das ações empreendidas.

 
A CAPRINO-OVINOCULTURA DO TERRITÓRIO

O território Sertão do São Francisco é considerado, em termos de criação de ovinos e caprinos, como o mais importante do país, com um efetivo conjunto próximo aos 2 milhões de cabeças, ocupando o primeiro lugar em efetivos do rebanho caprino, com mais de 1,1 milhão de cabeças e do rebanho ovino, com mais de 0,7 milhão de cabeças (IBGE, 2009). O efetivo caprino corresponde a praticamente 38,5% do rebanho baiano e a 13,2% do rebanho nordestino. Já o efetivo ovino corresponde a 23,8% do rebanho baiano e a 7,6% do rebanho nordestino. Por outro lado, embora numericamente expressivos, os rebanhos caprino e ovino do território apresentam níveis de desempenho muito pobres, condicionados pelo baixo padrão tecnológico que caracteriza seus sistemas de produção (Guimarães Filho, 2005). A taxa de desfrute anual do rebanho não passa dos 20%, resultante da alta taxa de mortalidade e do desenvolvimento retardado das crias. Nessa condição, o peso mínimo de abate, via de regra, só é atingido com idade superior aos 12 meses, com reflexos negativos na qualidade da carne produzida.

Uma série de limitantes das mais diversas ordens condiciona essa baixa eficiência dos sistemas produtivos, sendo a estrutura fundiária considerada como uma das principais. O tamanho médio das propriedades típicas nas bacias de produção varia de 41 a 68 hectares e os rebanhos médios são compostos de 123 a 161 cabeças (Holanda Jr, 2003), muito reduzidos se considerarmos a relativa desfavorabilidade dos demais fatores produtivos, mesmo levando em conta que a imensa maioria ainda utiliza as áreas de “fundos de pasto”. Essa pulverização fundiária continua a se agravar. Um exemplo absurdo disso é um anunciado programa de assentamento para a região de Canudos, onde uma grande área de caatinga, ainda razoavelmente preservada, deve ser desmatada e subdividida em míni-parcelas de 15 hectares para cultivo de mamona e pinhão-manso (IRPAA, 2007). Impõe-se, portanto, um zoneamento agroecológico que permita uma política de ajustes fundiários baseada em módulos mínimos que realmente viabilizem as distintas alternativas de exploração para cada unidade geoambiental. Qual o módulo mínimo de exploração na unidade “Depressão Sertaneja” (13,7 milhões de hectares e 24,6% da superfície da Bahia), em termos de número de matrizes caprinas e ovinas e considerando a capacidade de suporte de caatinga, capaz de proporcionar, em harmonia com o meio ambiente, um padrão de vida condigno para um produtor de base familiar? Ninguém sabe! Até por que a resposta é uma para cada espaço diferenciado da região.

Além da limitada superfície agrícola útil, as chuvas, poucas e irregulares, e os solos, rasos e de baixa fertilidade, que caracterizam o ambiente natural da região, são outros relevantes fatores desfavoráveis enfrentados pelo agricultor de base familiar dentro das suas unidades produtivas. Essa condição é agravada por práticas espoliativas de cultivo, criação e extrativismo e, ainda, por uma precária condição de apoio em termos de crédito e de assistência técnica, fatores essenciais de produção, não raro completamente ausentes. Para o produtor, o resultado de tudo isso se resume a um elevado nível de perdas reais e potenciais. O produto final, descontados o autoconsumo e o autoprovisionamento, resume-se a uma limitada e irregular oferta de produtos, condicionante de uma posição de baixo poder de barganha no mercado e responsável pelo baixo padrão de vida que caracteriza a unidade familiar da região.

Afora as limitantes de ordem natural e de crédito e assistência técnica a atividade é ainda negativamente afetada pelo baixo nível de capacitação gerencial do produtor e pelo seu débil ou nenhum nível de organização, que a impede de alcançar uma maior inserção no mercado, acarretando uma completa desarticulação entre os distintos segmentos das incipientes cadeias produtivas, impedindo a plena ocupação dos potenciais espaços de competitividade dos produtos junto aos mercados regional e nacional.

Todo o quadro de deficiências e limitações que caracteriza a situação atual da caprino-ovinocultura não está impedindo o acelerado surto de crescimento da atividade não apenas na região semi-árida, mas em quase todo o país. Segundo a Markestrat (2009), desde 2003 a produção de carne ovina no país aumenta em média 3,2 mil t/ano e o consumo aumenta 3,6 mil t/ano (3,2% média de 2003-07). Mesmo baixo em termos absolutos, o consumo de carne ovina no Brasil é maior que a produção, com o déficit crescente sendo coberto pela importação. De acordo com o mesmo estudo, a oferta de carne ovina no Brasil é da ordem de 172 mil toneladas para uma demanda de 204 mil toneladas, gerando um déficit anual de 32 mil toneladas, apenas para este tipo de carne. Mesmo sem estudo similar, o consumo da carne caprina acompanha esse ritmo, apresentando grande potencial para ocupar uma parte significativa desse mercado. Pelas características que tem de concorrente com vantagens sobre carne bovina, principalmente pelos baixos teores de gorduras, colesterol e calorias, entre outras, a carne caprina não terá dificuldade de superar os preconceitos que a cercam, tão logo se consolide sua oferta dos pontos de vista quantitativo e qualitativo. Isto pode demorar ainda um pouco, tendo em vista a dimensão dos obstáculos a serem vencidos, entre eles o do abate informal. Como é possível consolidar um arranjo produtivo em que o aspecto mais elementar da atividade, o da saudabilidade do produto, tem sido, ao nível de Nordeste, sistematicamente negligenciado? O abate informal, inclusive, desestimula e inviabiliza, pela concorrência desleal, os investimentos em abatedouros formais. É o que parece ter acontecido no caso do frigorífico LAMM, de Juazeiro que chegou a fechar temporariamente, pasmem, por problemas de suprimento de matéria prima numa região onde se concentram os maiores rebanhos de caprinos e ovinos do país. A atividade é realmente ainda cheia de contrastes. Em contraposição a leilões sofisticadíssimos transmitidos pela televisão, na quase totalidade dos restaurantes da região, onde as carnes caprina e ovina são degustadas, não se sabe de que morreu o animal. Aliás não se sabe nem se é caprino ou ovino. No “bodódromo” de Petrolina-PE, apesar do nome, apenas ovinos são servidos. Bode, só dá quando alguém não paga a conta.

Com relação ao mercado regional, com base em projeções do trabalho da Embrapa Semi-Árido (Moreira et al., 1998), é possível estimar que, somente para atender as cidades-polo de Petrolina (PE) e de Juazeiro (BA), somando hoje quase 400 mil habitantes, sejam abatidas anualmente cerca de 190 mil cabeças, correspondendo a produção de mais de 2 mil toneladas/ano. Em função desse crescimento de demanda, os rebanhos ovino e caprino das regiões tradicionais de criação do Nordeste e Sul do Brasil têm se mostrado insuficientes para suprir adequadamente os mercados, estimulando as importações e abrindo uma nova alternativa de produção para as outras regiões do país.

 
DUAS ESTRATÉGIAS TECNOLÓGICAS BÁSICAS PARA VIABILIZAÇÃO DA ATIVIDADE

A caprino-ovinocultura regional tem “sobrevivido” bravamente a uma série de programas de apoio, caracterizados, quase sempre, por sua ênfase em melhorar o padrão genético dos rebanhos. O caprinocultor ou ovinocultor comercial, aquele que cria para vender carne e peles, segmento correspondente a mais de 95% da pirâmide produtiva, se vê induzido a adquirir animais exóticos e caros, “criados” em ambientes artificializados, como a grande e definitiva solução para sua exploração a campo. Passam a mudar o ambiente para adequá-lo aos animais e a buscar o aumento de seu porte em uma região de recursos forrageiros escassos, contrariando duas das lições mais elementares da zootecnia

Trabalhos de órgãos de pesquisa, bem como, a experiência de muitos produtores, mostram ser possível, em rebanhos comuns, mestiços, aumentar a produção de carne caprina ou ovina comercializável por unidade de área, em mais de 100% ao ano, reduzindo a idade média de abate dos atuais 12-15 meses para 6 meses, simplesmente com a adoção de técnicas simplificadas de alimentação e manejo, sem maiores alterações no ambiente natural.

O modelo proposto nesses trabalhos procura contemplar estratégias tecnológicas e gerenciais básicas para viabilização da atividade consubstanciadas nas práticas de convivência com o semiárido, incluindo, entre as primeiras, os métodos racionais de uso da vegetação nativa e de pastejo suplementar em áreas cultivados com espécies tolerantes a seca e a utilização de reservas estratégicas de forragem conservada. Entre as estratégias gerenciais mais promissoras são consideradas as ações de qualificação e certificação dos produtos locais e a formação de condomínios de produção de carne, leite e forragem.

Manejo racional da caatinga

Os sistemas de subsistência explorados na área do bioma caatinga são os principais responsáveis por uma contínua e crescente degradação dos seus recursos físicos e bióticos, a qual já atinge mais de 20 milhões de hectares, correspondendo a 22% da região semi-árida (Sá & Angelotti, 2009). As causas do processo de degradação, quase todas de origem antrópica, estão associadas, principalmente, aos sistemas espoliativos de cultivo, ao superpastejo da caatinga e ao extrativismo predatório. Esse cenário é agravado por um aumento contínuo da população que potencializa esse quadro negativo em anos de estiagens mais severas, quando a contribuição relativa do setor agropecuário para o PIB regional cai cerca de 60%.

Entre todas as regiões do Brasil, é no semi-árido nordestino que os pastos nativos apresentam maior importância para a caprino-ovinocultura, já que essa atividade é predominantemente explorada em sistemas extensivos. Nas demais regiões, embora alguns pastos nativos ainda sejam utilizados essa alternativa está desaparecendo rapidamente, com a vegetação nativa sendo substituída por espécies introduzidas,

Naturalmente é no período de chuvas os animais aproveitam melhor as pastagens nativas, uma vez que é nessa época que a vegetação se apresenta com maior oferta de massa verde disponível, com maior diversificação e com maior valor alimentício, Além disso, a forragem natural, por ser dada pela natureza, é o alimento mais barato que existe para os ovinos e caprinos.

Para maximizar esse aproveitamento, o produtor deve adotar uma série de práticas harmônicas com a preservação da flora e da fauna do ecossistema, especialmente naquelas áreas onde o processo de degradação esteja mais acentuado. Alguns fatores básicos associados a essas práticas devem ser considerados pelo diversos segmentos que atuam no arranjo. Dentre eles se inclui, não apenas o atendimento às leis ambientais (estabelecimento de áreas de reserva legal e de preservação permanente na propriedade), mas, também, a necessidade de promover ações de recomposição da caatinga (“recaatingamento”) nas áreas mais degradadas, especialmente nos chamados “fundo de pasto” – essa peculiar forma de organização da produção tradicionalmente associada à pecuária extensiva (Sabourin et al., 1999) envolve mais de 18 mil famílias congregadas em cerca de 300 associações (Holanda Jr, 2003) acha-se em processo de desaparecimento em função de problemas ligados ao seu reconhecimento legal e regularização e a falta de apoio tecnológico e financeiro. Sem essa formalização, o produtor sente-se inseguro e os investimentos são desestimulados, inviabilizando a aplicação de estratégias adequadas que conciliem um manejo eficiente do rebanho com um extrativismo racional e com outras atividades (apicultura, quintais produtivos, etc.), fundamentais para neutralizar o crescente processo de destruição da biodiversidade que vem afetando essas áreas;

É urgente a necessidade de as instituições públicas, em parceria com as organizações representativas das comunidades locais, implantarem agressivos programas de validação e de transferência de tecnologias e conhecimentos disponíveis sobre a exploração sustentável da caatinga, incluindo, entre outras: as práticas de subdivisão dos pastos nativos, com diferimento e alternância anual de parcelas para uso nos períodos secos; de pastejo associativo com distintas espécies animais, em função do tipo de caatinga; de taxas de lotação flexíveis com ajustes inter e intra-anos na carga, em função da regularidade das chuvas, etc., e de manipulação da vegetação visando o aumento de sua capacidade de suporte, via raleamento, rebaixamento ou enriquecimento. A disseminação de tecnologias e conhecimentos gerados pelo próprio caprino-ovinocultor deve, também, ser incorporada nesse esforço de validação, entre elas o uso de cercas vivas com umburana-de-cambão e quiabento, a preservação de espécies protetoras do solo contra a erosão (como a macambira) e o uso estratégico do esterco nas distintas épocas do ano (venda de eventuais excedente na época em que o mesmo está cheio de sementes de algarobeira ou de outras invasoras e uso exclusivamente interno na época em que está cheio de sementes de espécies nativas de maior valor, como o umbuzeiro).

Formação de reservas de forragens para o período seco

A escassez de alimentos para os rebanhos durante os períodos secos constitui a principal limitante de ordem técnica dos sistemas de criação de caprinos e ovinos de base familiar no semiárido. É a principal responsável pela idade tardia de abate dos animais. Não se tem conhecimento de nenhuma campanha massiva de fomento à fenação, à ensilagem, ao aproveitamento de resíduos, nem mesmo ao cultivo de palma-forrageira. A quantidade de forragem armazenada para uso nos períodos de seca, nas principais regiões produtoras do semiárido, é ridícula. Privilegiam-se cursos de inseminação artificial em zonas onde os animais sequer têm o que comer nos períodos secos. A formação e uso de reservas forrageiras tem a vantagem adicional de aliviar ou eliminar a pressão de pastejo sobre a caatinga no período seco.

O acervo disponível de tecnologias para alimentação dos rebanhos nos períodos secos é enorme, faltando apenas programas públicos que priorizem a sua apropriação pelo produtor. Entre as principais alternativas tecnológicas capazes de assegurar um bom e regular suprimento de forragem para os rebanhos nos períodos de escassez incluem:

• Reservar pastos: reservar alternativamente áreas de caatinga para uso pelos animais apenas na época da seca é um bom método de evitar a sua degradação, pois dá tempo para que a maioria das plantas nativas flore e frutifique, assegurando sua sobrevivência – Reservas devem, também, ser formadas de pastos cultivados. Entre as espécies mais recomendadas estão os capins búfel, urochloa (corrente) e gramão e as leguminosas leucena e gliricídia;

• Reservar áreas de forragem para corte, colheita ou apanha: são áreas de capineiras, legumineiras e de outras espécies cultivadas para fornecimento frescas ou secas, em cochos, aos animais, durante o período seco. As melhores forrageiras para esse fim são, para corte, o capim elefante, a cana-de-açúcar, a palma-forrageira, a leucena, a gliricídia, o guandu e a maniçoba. Para colheita ou apanha, destacam-se a melancia-forrageira (frutos) e a algarobeira (vagens);

• Conservar forragens: conservar a forragem produzida durante o período das chuvas através dos métodos de fenação e de ensilagem constitui uma das melhores garantias de sucesso para a exploração de ovinos e caprinos. A fenação é o processo de secagem da planta forrageira verde, com o fim de reduzir o teor de água que ela contém – As plantas mais recomendadas para fazer feno são os capins de talo fino (búfel, urochloa, gramão, tifton), as leguminosas leucena, guandu, gliricídia e cunhã, bem como outras espécies, como a maniçoba, a mandioca (parte aérea), o mata-pasto, a faveleira e a lã-de-seda. A ensilagem é um processo de fermentação que ocorre quando a forrageira é cortada verde, triturada e armazenada em ambiente de onde todo o ar tenha sido expulso. As plantas mais recomendadas para serem ensiladas são as gramíneas milho (é a melhor silagem), sorgo, capim elefante e cana-de-açúcar. Outras espécies também podem ser utilizadas, como leucena, maniçoba, gliricídia e mandioca;

• Aproveitar restos de culturas e de outros materiais que existem na propriedade: outros produtos disponíveis na propriedade podem, também, ser guardados e tratados para uso na alimentação dos animais durante o período seco, principalmente os restos de cultivos e os restos do beneficiamento de produtos agrícolas. Os mais comuns entre eles são as raspas de mandioca, as palhadas e sabugos de milho, as palhadas e panículas de sorgo, as palhadas e cascas de feijão e de arroz, as folhagem e manivas de mandioca, os bagaços de cana, os resíduos do cultivo e do beneficiamento do sisal, os capins secos, as folhagens secas e verdes de plantas nativas da caatinga. A melhor forma de aproveitar os materiais secos é pelo processo de amonização, em que o material é triturado e tratado com uma solução de uréia e água e, em seguida, coberto com lona plástica e deixado descansar por cerca de 20 dias, antes de fornecê-lo aos animais. Esse tratamento de baixo custo, inexplicavelmente desdenhado pelos programas públicos de assistência técnica, permite elevar a qualidade nutritiva de qualquer tipo de material vegetal seco disponível na propriedade fazendo com que o animal o consuma em maior quantidade e com melhor assimilação pelo seu organismo. A queima das plantas espinhentas da caatinga é uma alternativa também eficaz, no contexto de sobrevivência do rebanho. Já existem processos mais eficientes de extração dos espinhos. Por ser predatória (em boa parte da região, já não é tão fácil encontrá-lo), deve ser utilizada apenas em última instância e com muito critério, inclusive fazendo a sua recomposição na caatinga. O plantio de reservas de mandacaru-sem-espinhos de forma adensada, incentivado pela Embrapa Semiárido, é uma alternativa promissora para sua utilização sem comprometer a espécie (Brito & Resende, 2005).


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para os cerca de 90 milhões de hectares não irrigáveis do semi-árido as melhores alternativas de exploração econômica residem, evidentemente, na valorização de suas potencialidades naturais e suas tipicidades e patrimônios cultural e social específicos, cujo conhecimento disponível ainda deixa muito a desejar. Dentro do que já se conhece, a caprino-ovinocultura é, sem sombra de dúvida, um espaço a ser prioritária e racionalmente trabalhado.

Assegurar aos agricultores familiares a apropriação do imenso acervo de inovações técnicas, gerenciais e organizativas, já disponibilizado ou em processo de validação, representa o grande desafio a todas as instituições públicas e privadas, comprometidas com a preservação da diversidade biológica e cultural do bioma caatinga e com a melhoria do bem-estar das suas populações. Dentre estas instituições, a pesquisa e a extensão agropecuária, como geradoras e transferidoras de novas combinações de fatores de produção que dão origem a essas inovações, são, naturalmente, responsáveis por uma significativa parcela desse esforço.

As disparidades moldadas por um padrão tecnológico que estimulou as desigualdades e a exclusão, podem e devem ser alteradas por uma nova pauta que contemple todas as dimensões do desenvolvimento sustentável. Nesta nova pauta deverão estar implícitos, entre outros fatores, a preocupação com a relação da sociedade com a natureza, no que se refere às estratégias de apropriação, manejo dos recursos naturais e da biodiversidade, preservação e recuperação ambiental, segurança alimentar, geração de emprego e renda e valorização da cultura e dos hábitos alimentares. Isto só será possível se os programas e ações de pesquisa & desenvolvimento, a partir de um conhecimento bem acabado do comportamento do produtor familiar (motivações, necessidades, lógica, estratégias), adequarem as inovações às suas potencialidades e às circunstâncias sob as quais este opera, priorizando a geração de tecnologias de processo sobre as tecnologias de produto, incorporando o seu saber e a sua experiência ao processo de geração de tecnologias e privilegiando as questões voltadas para sua maior inserção no mercado, de modo a proporcionar-lhe uma visão mais objetiva do contexto econômico em que vive e das estratégias para valorização e maior competitividade dos produtos do seu trabalho.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


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